Canalhas, precatem-se
“Os canalhas são uma espécie infinita entre os homens”
(Ana Sara Manso – poetisa)
Desta vez resolvi ir a Aparecida de Goiânia. Embarquei no ônibus na Avenida Goiás, linha tal em direção ao terminal Garavelo e lá fiquei um bom tempo perambulando e observando como o povo sofre nas mãos da ganância das empresas que exploram o transporte coletivo em Goiânia e região metropolitana, que, tudinho somado, atinge mais de 2.500.000 habitantes, numa área de cerca de 7.500 km² com um respeitável PIB de quase R$36.000.000.000.(Quatro cidades, Goiânia: R$ 24.500.000.000, Aparecida de Goiânia: R$5.150.000.000, Senador Canedo: R$3.200.000.000 e Trindade: R$1.000.000.000 totalizam quase R$34.000.000.000).
A complacência dos prefeitos, deputados e vereadores ao aceitarem calados é revoltante. Levantem uma querela, se movimentem no sentido de acabar de vez com essa penúria.
Pra não dizerem que só critico e não aponto solução, como povo e como usuário aí vai uma pequena dica: primeiro, convidem as atuais empresas e conte-lhes o papagaio do pé riscado, isso é, diga-lhes na cara que o povo não é carga de boi que vai para o matadouro e nem galinhas e nem porco gordo que vai virar toucinho não, viu?…É gente que madruga garrando na cacunda da vida pra sobreviver e, portanto, é digna de respeito e consideração e é dever dos governos exigir que as empresas ofereçam um transporte decente para o usuário não se apertar como sardinha em latas ao molho de suor e sêmen dos canalhas que entram em estertores orgásticos ao se esfregarem nas mulheres que querem, tão somente, chegar à faculdade, ao trabalho, à academia, ao consultório médico, ao palácio do governo, à Assembleia Legislativa, à Câmara Municipal e ao lazer.
Feito a explanação, as empresas, é lógico, vão pular de banda contraargumentando que os municípios não oferecem nenhuma estrutura para se aplicar uma engenharia de tráfego nos moldes do Reino Unido ou de Nova York e talvez da Conchichina e blábláblá e blábláblá e “molha a mão” dum aqui e doutro ali e tudo fica como dantes no quartel de Abrantes, certo? … Errado! Temos gente boa, gente decente no comando dos destinos dessas cidades que, por formação cultural, religiosa e de berço, jamais entraram ou entrarão no furdunço de se venderem por trinta dinheiros.
E pra dizer que não falei de flores, vai mais uma dica: governantes, digam para eles que, se não conseguirem civilizar o serviço como um todo, abrir-se-á concorrência nacional e se esta não vingar e ficar com nhenhenhém, far-se-á uma internacional e aí quero ver alemães, chineses, indianos ou americanos triplicarem o PIB ao implantar o metrô de superfície e subterrâneo, construindo elevados para se correr pro riba sem cruzamento daqui prali e de lá pra cá e tudo isso higienizado e aromatizado com essências da natureza, ar condicionado, água gelada, música apaziguadora e funcionários agradecendo, educadamente, a preferência, como fazem as companhias aéreas.
É sonho? É! Mas sabe Deus que vai aparecer um peitudo falando assim: Olhem, d’agora em diante o povo não mais vai sofrer o que sofreu uma mocinha lindinha que meteu a mão na cara dum canalha que tava se esfregando nela e quando a mão aberta estalou na cara do sacripanta este reagiu e avançou feito um touro bravo pra esganar a coitadinha, mas esta – judoca faixa preta – escrabrum, aplicou um golpe marcial naquele corpanzil que se esborrachou com um estrondo no assoalho de lata e o povo abriu espaço e ela, vupt, pulou na cacunda imobilizando o fídumaronquefuça e puxou seus cabelos pra traz e ele ficou de cara pra riba mostrando um pescoço na horinha de degolar e daí ela sacou dum estilete de prata encostando-o na garganta dele e quando ele sentiu o frio do aço afiadíssimo no seu gogó deu um longuíssimo e tenebroso berro de bode sendo castrado, exalando da sua boca uma catinga de tábua de chiqueiro, aí ela, de indicador em riste sobre aqueles beicinhos lindos, disse-lhe com uma terna voz de artista de cinema: “caladinho aí, canalha! Primeiro vou arrancar sua cabeça piolhenta, depois vou cortar seus bagos procê falar fino e virar mocinha, viu seu cara de calango? E qual um Zorro furioso fez zip, zap, zip, cortando tudo que segurava as calças do patife levantando-se com elas nas mãos e ele se vendo livre, pulou do ônibus só de cuecas e disparou num carreirão de frango destroncado e cai aqui, cai acolá, tropeçou não sei em quê indo de encontro a um carrinho de picolé estacionado bem assim na esquina e bateu a barrigona de porco pelado na quina da caixa e ao bater o vento saiu numa força de duzentos quilômetros por hora expelindo uma massa amarela-verdolenga tão fétida que enganou um bando de urubus que sobrevoava na estratosfera e de repente ele, mijado e embosteado, abriu-se num choro catarrento que partiu o coração de quem via tamanho desarranjo, coitadinho. A polícia chegou refugando de por a mão naquele bosteiro até que uma filha de Deus – branquela, gorduchinha e baixotinha – correu pra dentro duma casa com os chinelinhos fazendo lép lép lép, voltando de lá com um balde d’água cheirando a eucalipto que entregou ao tenente que passou pro sargento que passou pro cabo que passou prum soldado que falou ai meu Jesus e olhou pra tudo quanto é banda não viu sequer um filho de Deus que pudesse incumbir-se de tão delicada tarefa e um furor súbito deu-lhe ganas de esganar qualquer um, eis senão quando lhe aparece um vira-lata que, sem pedir licença, teve a audácia de atravessar na sua frente e o soldado exemplou-o com um tremendo pé na bunda que é prele aprender a não obstaculizar diligências oficiais, ooora siô!