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Dona Isolina completa 112 anos de vida

Esbanjando alegria, Isolina Ana de Jesus, moradora de Goianésia, completou na segunda-feira (14) incríveis 112 anos de idade. Muito provável que seja a mulher mais velha de Goiás e uma das raras no País a alcançar a marca.

Dona de uma fé inabalável e muita alegria em viver, Isolina é um exemplo de vitalidade.Medindo não mais que 1 metro e 40 centímetros e pesando não mais que uns 40 quilos, se veste de modo simples e franciscano. Tem um dente de ouro na boca, colocado num tempo em que o sorriso brilhoso era sinal de prestígio e padrão de estética.

Nascida no dia 14 de maio de 1906 na cidade de Formiga (MG), aportou em Goianésia, segundo seu relato, há mais de 60 anos. “Quando cheguei aqui tudo era mato, não tinha nada. Agora tem esta cidade bonita. Antigamente só havia umas casinhas ruins e muito mato”, lembra.

“Tenho a memória muito boa. Melhor que a de muita gente nova. Lembro de coisas que aconteceram comigo quando eu tinha 3 anos de vida”, conta.

Não é apenas a memória de Isolina que está intacta. Seu corpo, apesar de pequeno e muito magro, resiste bravamente à ação corrosiva do tempo. Escuta sem grandes problemas, enxerga bem, anda sem dificuldades e não sossega pra nada. “Não gosto de ficar à toa. Quando vejo um mato fico com vontade de pegar uma enxada e ir lá capinar”, conta a mulher, que mora sozinha numa casa rosa simples, ao lado de dois cães e alguns periquitos.

Ela não se entrega. Varre a casa e o quintal, limpa o chão vermelho, cuida das vasilhas e alimenta os animais. E ainda prepara sua própria comida. “Mas quase não sou de comer. Gosto mais é de pão de queijo, bolo, banana, laranja”, lista o cardápio.

VIDA DE FÉ
Isolina é uma mulher de muita fé. Evangélica da Igreja Assembleia de Deus há mais de trinta anos, segundo suas contas, ela lamenta o fato de não ir aos cultos com a frequência que gostaria. “Atualmente só vou à igreja quando alguém me leva de carro. Mas vou até na garupa de bicicleta”, garante.

Ela conta que o encontro com a fé mudou sua vida. “Eu bebia muito, dava trabalho aos outros, deitava na rua. Mas Jesus me salvou”, relata.

SOFRIMENTO
“Tive apenas cinco filhos”, declara Isolina, considerando a prole bem modesta face às colegas que tinham até mais de uma dúzia de filhos. Dos cinco apenas dois estão vivos. O marido, com a qual casou aos 18 anos, também já habita o mundo dos mortos.

Sobre o companheiro, a viúva não guarda boas recordações. “Ele judiava demais de mim. Não me matou porque Deus me guardou”, entrega. “Tentava me matar de faca, de revólver, de tudo que é jeito”.

“Mas eu tinha muito amor nele. Ele que tinha raiva de mim”, disse. Ela atribui as agressões do marido a um feitiço e não à maldade dele. “Foi um trabalho que o pai de uma moça que queria casar com ele fez. Como ele me escolheu e não a ela, o homem fez uma macumba para que meu marido me tratasse mal”, acredita.

“Trabalhei muito na roça, fiz farinha, carreguei saco de mandioca na cabeça, capinei. Nunca rejeitei serviço. Minha vida foi dura”, explica.

A cumplicidade que Isolina tem com a vida parece ser imune até a bala. Quando tinha três anos de idade, ela conta, levou um tiro acidental nas costas. O revólver foi disparado, sem intenção, por um sanfoneiro amigo da família. A bala foi retirada com ferro quente e a menina se salvou para cumprir seu século de aventuras.

FELICIDADE
“Sou uma pessoa feliz. Minha única doença é a magreza. Quase não sinto dores. Tenho uma sorte boa que Deus me deu”, confessa Isolina, com entusiasmo. “Para mim tudo é bom, sou muito conformada com a vida que tenho. Se todas as pessoas fossem como eu a vida seria muito melhor”.

A longeva moradora de Goianésia, satisfeita com a vida que leva, tem, no entanto, um único pedido a Deus. “Não quero morrer em hospital. Só peço que Deus me dê uma boa morte”, afirma. “Alguém me disse que vou morrer igual a um passarinho”, finaliza Isolina, com a sabedoria que apenas os seres iluminados conseguem ter.

 

Anderson Alcantara

Jornalista e Escritor

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