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Estrada para o novo mundo

“Se asfaltar, vai acabar com tudo que tem de bom aqui”. Essa é uma frase comum na boca dos baianos do Distrito de Maraú quando falam sobre a BR-030, que é única estrada que dá acesso às famosas praias de Taipús e às vilas da população local.

Apesar do turismo ser uma importante fonte de renda para a população local e nativa, muitos são os que percebem o desequilíbrio na balanca entre benefícios e malefícios. Para preservar a cultura, as tradições e o estilo de vida, a população local prefere enfrentar vários quilometros de barro e buracos em vez de desfrutar de todo o conforto que o asfalto poderia fornecer. Isso porque com facilitação do acesso, o turismo se expandiria descontroladamente, levando consigo o aumento da população, da criminalidade e a deterioração das outras fontes de renda e formas de sobrevivência (como a pesca e o extrativismo – que fazem parte da identidade cultural).

Em um primeiro momento até fiquei surpreendido com a repulsa ao asfalto, ao desenvolvimento do turismo e aos outros “benefícios” corolários. Mas logo percebi que o estranhamento que tive é decorrente do vício que tenho em uma forma de pensamento que aqui chamarei de “progressista”. É uma forma de pensar que consiste em acreditar que o propósito da vida é encontrar formas mais efetivas de conforto e melhoria da qualidade de vida.

A resposta dos orgulhosos baianos me fez perceber que o modo progressista de vida, além de extremamente materialista, é um modo de pensamento que quando levado à prática jamais terá uma conclusão. Os valores defendidos pelos baianos parecem levá-los à realização de vida. Poucos são os que não se sentem abençoados, felizes ou realizados. Sem contar o segredo, dizem apenas que tiram o axé do mar. Talvez a estrada para o futuro não seja asfaltada.

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