21 de novembro de 2019

Reflexão

Ler jornais todas as manhãs é um hábito que cultivo há algumas décadas, confesso que  não faço isso esperando encontrar informações sérias o suficiente para melhorar os meus conhecimentos acerca dos mais diversos assuntos que norteiam o nosso cotidiano, pelo contrário, o objetivo é conhecer e compreender o que pensa a grande mídia brasileira.

Confesso que não me surpreendi ao me deparar com a  charge do cartunista Latuff, exposta no corredor da Câmara do Deputados, às vésperas do feriado alusivo à Consciência Negra, entretanto, senti que deveria exercer a minha liberdade de expressão manifestando a minha opinião acerca do assunto. A minha primeira atitude foi mostrar a referida imagem para os meus filhos, uma criança de 09 e uma adolescente de 14 anos,e em seguida os interpelei: Essa é visão que vocês têm do papai? Vocês acreditam que o papai é capaz de fazer isso? Atônitos e às lágrimas, meus filhos me perguntaram porque aquele cartunista, sem me conhecer, sem saber que tipo de pai eu sou, ousou dizer aquilo?

Caro leitor, você deve estar imaginando que odeio os negros, não é? Em relação aos afrodescendentes, devo esclarecer que, além de defender o legitimo direito de manifestação dos mesmos, embora com restrições, sou a favor das ações afirmativas que os contemplam. Antes que me critiquem pelas “restrições”, saliento que as políticas de governo destinadas às minorias não deveriam se basear na cor da pele. Você duvida de que no Brasil existem milhares de pessoas de pele branca, cabelos loiros e olhos azuis vivendo em situação de extrema pobreza? É… Esse assunto merece melhor reflexão, o que farei noutra oportunidade.

Utilizar uma imagem aviltante e discriminatória para explicar a desigualdade social, é no mínimo um golpe rasteiro, que deveria causar repulsa a qualquer pessoa, sobretudo aos representantes dos Direitos Humanos. Você acredita que aparecerá algum representante dos Direitos Humanos para defender os  quase 500 mil policiais militares contra o ato insano, repugnante e nojento praticado pelo cartunista Latuff? Claro que não.  Afinal, uma Corporação formada por homens e mulheres desprovidos de sentimentos,que agem de maneira seletiva, cujas principais vítimas são jovens negros, não merecem a atenção dos Direitos Humanos, entidade formada pelos gênios da raça humana.

Será que o senhor Latuff sabe que boa parte do efetivo das Polícias Militares do Brasil é composta de negros?Será que o cartunista pesquisou todas as ocorrências envolvendo a população negra e que resultaram em morte por intervenção de agente do Estado, para saber se ação foi legítima?Alguém precisa explicar para esse apedeuta que o grande número de confrontos entre os jovens negros e a Polícia Militar são consequências geradas pela ineficiência do Estado, e que as verdadeiras causas são as seguintes: falência do sistema educacional (somos os últimos colocados nos exames internacionais), déficit habitacional ( faltam 6 milhões de moradias), falta de políticas públicas voltadas para a geração de renda e emprego (temos 12 milhões de desempregados), desestruturação das famílias ( com a ausência dos pais, as crianças se tornam vítimas fáceis dos traficantes). Ressalta-se que 12 milhões são os que ainda estão procurando emprego, se somarmos os que já desistiram esse número passará facilmente dos 20 milhões.

O pior de tudo é saber que um cidadão dessa estirpe utiliza essa massa de desempregados e desassistidos para tirar proveito em benefício próprio. Sinceramente, os nossos irmãos afrodescendentes são muitos especiais e não merecem ser representados por esse senhor, homem  mal-intencionado e de rara ignorância que não pensou duas vezes antes de atacar uma Corporação cuja história se confunde com a da Nação.

Infelizmente, o policial militar no Brasil é duplamente vitimizado, não bastasse a ação dos marginais  que todos os anos abatem cerca de 500 homens, deixando uma legião de crianças órfãs, seguimentos como o representado por Latuff praticam todo tipo de discriminação contra os fardados.

Considerando que a crítica do cartunista foi genérica, englobando os policiais militares de todas as unidades da Federação, creio que as entidades de classe, em nível nacional, deverão se pronunciar exigindo retratação, por escrito, a qual deverá  ser veiculada na TV Câmara e nos demais jornais e sites que deram publicidade à matéria.