Colunistas

Educação e demagogia

 

Temos visto a Prefeitura de Goianésia divulgar peças publicitárias exaltando a qualidade da educação da rede pública municipal, porém, as peças compartilhadas contêm afirmações que dão a entender que Goianésia tem a melhor nota no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do estado de Goiás, contudo, estas alegações são capciosas…

Vamos aos fatos: a escola mais bem avaliada do estado no ano de 2017 realmente foi a Escola Municipal Evangélica Monte Moriá, com a nota de 8.6 no IDEB. Contudo, nesse mesmo ano, último de avaliação do IDEB, Goianésia teve como média de todas as escolas a nota 7.1, logo, não é a cidade com a melhor média do estado. A grande questão é que a escola citada eleva a média geral, mas temos escolas com notas muito inferiores à média do município.

Pois bem, inicialmente devemos entender que a Escola Monte Moriá é um caso de sucesso há muitos anos, pois já em 2013 ficou com nota 7.6, enquanto a média do município foi de 6.6, em 2015 subiu para 8.2, sendo que o município teve média de 6.9, e em 2017 foi para 8.6, com a média do município ficando em 7.1, uma nota que pode parecer alta, mas que esconde um problema: escolas que não conseguem melhorar suas notas.

Após essa contextualização, devemos analisar a situação de nossas quatro piores escolas, sendo as seguintes:

  1. Escola Municipal Eloi Alves da Fonseca, que em 2013 teve nota 6.0 (não atingindo a meta do IDEB), em 2015 não participou da avaliação, e em 2017 foi para 6.4, bem abaixo da nota média do município.
  2. Escola Municipal Eliziário José de Oliveira, que no ano de 2013 tinha a nota 5.9, em 2015 ficou 6.6, em 2017 manteve a média em 6.6, algo fora do padrão.
  3. Escola Municipal Magnólia Protasio Machado (Período integral), em 2013 ficou com 5.7, sendo a pior nota entre todas as escolas do município, em 2015 subiu um pouco para 5.9, e em 2017 foi para 6.6, mas continua bem abaixo da média de todas as escolas.
  4. Escola Municipal Antônio Fernandes, no ano de 2013 teve a nota 6.4, conseguindo uma nota razoável naquele ano, em 2015 subiu para 6.9, ficando com a mesma pontuação da nota média do município naquele ano, mas em 2017 teve uma queda para 6.7, retrocesso incompreensível.

Diante desse cenário, nota-se que essas quatro escolas, todas localizadas em regiões carentes, precisam de mais investimentos e de melhora na gestão, mas não é o que temos visto.

Poderíamos nos inspirar no caso de Sobral-CE, que em dez anos conseguiu fazer a nota dos anos iniciais do ensino fundamental passar de 4,9 para 9,1, a mais alta de todo o país, o que fez com que o município tenha ainda o melhor resultado nos anos finais do ensino fundamental, com nota 7,2, segundo o IDEB 2017. Neste mesmo ano, o IDEB de Sobral nos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano) foi de 9,1, nota bem acima da média nacional, que é de 5,8 nessa faixa escolar. Este município atingiu também a maior nota do Brasil nos anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano), com 7,2, sendo que a média nacional é de apenas 4,7.

Os três eixos das políticas educacionais que revolucionaram Sobral-CE são: fortalecimento da gestão escolar; diretores e coordenadores são selecionados por meio de concurso público, com análise de currículo e formação, e não por indicação política; qualificação do trabalho nas aulas, com professores que têm uma escola de formação continuada para auxiliar no planejamento de aulas e no desenvolvimento de materiais didáticos; e, valorização dos profissionais, tendo lei municipal que garante o pagamento de bonificação e gratificação diretamente no contracheque dos professores, atrelado a metas de aprendizagem.

Além disso, temos ainda outro grave problema: frequentemente o Ministério Público ingressa com Mandado de Segurança para que a Prefeitura providencie vaga em creche, sendo que, estima-se que apenas metade das crianças nessa faixa etária e que gozam desse direito estejam matriculadas nas creches municipais, ou seja, o déficit de vagas é imenso. Especialistas afirmam que este problema poderia ser resolvido com a ampliação do espaço físico das creches já existentes e contratação de mais profissionais para esses locais.

Ainda, nas escolas municipais não há nenhuma disciplina voltada ao ensino de alguma língua estrangeira, tampouco equipes para atendimento multidisciplinar com psiquiatras e psicólogos.

Para piorar, esta gestão menosprezou a classe dos professores ao deixar o plano de carreira parado, ao não pagar o piso, e ainda, aumentou o desconto de contribuição previdenciária de 11% para 14% na folha salarial de todos servidores, inclusive os da educação. As titularidades começaram a ser pagas apenas agora nesse período que antecede a eleição municipal.

Por fim, o Prefeito não cumpriu com suas promessas de campanha de implantar dois professores em sala de aula, e de instalar aparelhos de ar condicionado em todas as creches e escolas municipais.

Com tudo isso, fica o questionamento, a Prefeitura de Goianésia está comprometida em melhorar a educação de todas as nossas crianças, ou apenas fazer demagogia com intenção eleitoreira?

 

Juliano Rodrigues de Souza Junior

Graduado em Direito pela Universidade Católica de Brasília, e Advogado em Goianésia

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