Susana Moura é o tipo de mulher que nasceu para cumprir uma missão: ajudar as pessoas em seus momentos mais difíceis. Como foi o caso da garotinha Ana Júlia, que nasceu com má formação congênita. Ela tinha os órgãos para fora do corpo: o ânus imperfurado, a genitália ambígua, extrofia de cloaca e meningocele. Não eram poucas as deformações. A mãe da criança pediu ajuda à Susana. Ana Júlia tinha apenas quatro meses de vida e pouca esperança de ter uma vida normal.
“Quando cheguei à casa me deparei com uma mãe de apenas 17 anos com sua filhinha no colo pedindo socorro. Ver aquela cena foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Sinceramente, não sabia como eu poderia ajudar a mãe e aquela criança”, recorda Susana.
Saiu de lá chorando. Fez suas orações ainda na rua. Já em casa, começou a fazer ligações. Ouviu não de muitos médicos. Quando já pensava em desistir, recebeu um sim do Hospital Materno Infantil de Brasília, o HMIB. Uma equipe do hospital aceitou fazer a reconstrução dos órgãos da menina. Havia uma luz no fim do túnel. Susana, com seu melhor sorriso, ligou para a mãe de Ana Júlia e deu a ótima notícia.
A consulta e o tratamento estavam garantidos. Só havia um problema: os pais de Ana Júlia não tinham um centavo para custear a viagem de Goiânia ao hospital, distante mais de 200 quilômetros da casa deles. Susana conversou com seu marido, Renato, e resolveram levar o casal e a garotinha até a capital federal, de carro. Havia outro problema: Renato disse que o dinheiro que tinha no bolso só era suficiente para abastecer o carro. Sobrariam apenas uns trocados. “Vamos assim mesmo!”, decidiu Susana.
Foram. Demoraram no hospital. Na saída, era hora do almoço. Renato, sem jeito, olha para Susana e abre o jogo. “O dinheiro que temos é suficiente apenas para o almoço dos pais da criança”. Susana encontrou uma estratégia. “A gente faz o seguinte: compra a comida para eles e fala que não estamos com fome”. Assim fizeram.
Ana Júlia começou a ser ajudada por uma equipe especializada do hospital. Ela foi submetida a várias cirurgias de reconstrução de seus órgãos. Quando recebeu alta era uma nova criança. Tinha praticamente um corpo novo, com tudo em seu lugar. Poderia brincar, estudar, ser feliz como qualquer outra criança. Hoje, ela tem sete anos e seu sorriso é um milagre que mora no coração de Susana Moura.
VENCER UM LEÃO POR DIA
Essa é apenas uma das muitas histórias que Susana ajudou a ter final feliz. Ela ajuda a partir de duas frentes: com o seu trabalho como assessora parlamentar no gabinete do deputado estadual Helio de Sousa e como presidente da Casa Amor e Vida, que é um espaço de apoio e prevenção a pessoas com doenças degenerativas, situada em Goiânia.
Não há um só dia sem desafios na caminhada de Susana. São muitas pessoas precisando de ajuda. Os recursos para promover as ajudas são frutos de doação da comunidade. É uma conta difícil de fechar todos os meses. A Casa disponibiliza uma central de telemarketing, pedindo doações por telefone para pagar os boletos e conseguir materiais de apoio como fraldas geriátricas.
Apesar de morar em Goiânia atualmente, Susana é filha de Goianésia, onde nasceu há 44 anos. Seu pai, Celino Moura, foi vereador durante quatro mandatos na cidade. Sua mãe, Deladir Bastos também é uma pessoa com bons conhecimentos dentro da comunidade.
UMA VIDA MARCADA PELO TRABALHO
Susana sempre gostou de trabalhar. Começou aos 9 anos de idade, ajudando Dona Denise (já falecida) a tomar conta do antigo Bazar Mãe Maria. Aos 14 anos, foi contratada no Projeto Menor Aprendiz da prefeitura. De lá, passou por diversas empresas, sempre aprendendo novos ofícios e ajudando a levar dinheiro para casa.
Conheceu Renato, se apaixonou, casou e foi morar com ele em Goiânia. Tinha 20 anos na época. Lá continuou trabalhando. Primeiro vendendo filtros e purificadores de água de porta em porta. Algum tempo depois, com a ajuda do marido, abriu uma copiadora e encadernadora. Deu certo durante muito tempo. Quando seu esposo saiu do trabalho e montou a própria empresa, Susana achou que era melhor ajuda-lo no negócio. Entrou de corpo e alma e contribuiu para prosperar a empresa.
MISSÃO DE VIDA: AJUDAR O PRÓXIMO
Susana gostava muito de trabalhar, de dedicar as horas do seu dia a um ofício. Mas sentia que precisava exercer melhor sua verdadeira paixão: ajudar pessoas que precisam e não têm a quem recorrer. Com isso em mente, reuniu alguns amigos e fundou a Casa de Apoio e Prevenção a Pessoas com Doenças Degenerativas – Casa Amor e Vida. É uma associação sem fins lucrativos, beneficente que atua em prol de pessoas de todas as idades que estão em tratamento de doenças degenerativas somando ao auxilio material, esclarecimento sobre os direitos sociais e os valores que dignificam o ser humano.
Os casos mais atendidos são: glaucoma, alzheimer, parkinson, autismo, epidermólise bolhosa, AVC e diabetes. As pessoas beneficiadas são cadastradas e passam por avaliações socioeconômicas antes de serem ajudadas.
A Casa atualmente funciona com cinco funcionários, muitos voluntários e atende 87 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. São pessoas que chegam desapegadas de qualquer esperança e ali encontram mais do que ajuda, encontram novos motivos para serem novamente felizes.
“Buscamos ajudar as pessoas naquilo que elas mais precisam no momento, como por exemplo: cestas básicas, remédios, fraldas, leites especiais, equipamentos hospitalares (cama, cadeira de rodas e cadeira de banho) entre outros”, explica Susana. “E através de um projeto desenvolvido por nossa assistente social, Maria Altina Teresa Santos, contamos com um curso de qualificação profissional para cuidador”, completa. O projeto teve o patrocínio da Enel.
SEU TRABALHO NA ASSEMBLEIA É AJUDAR A MELHORAR A VIDA DAS PESSOAS
Susana divide seu tempo nas duas funções: na ONG e na Assembleia Legislativa, que é de onde tira seu sustento. “Meu dia é bem movimentado. Tenho a função de atender os municípios goianos em suas demandas. Estou sempre ajudando as pessoas do interior que nos procuram”, conta. “Quando as pessoas me acionam para questões de saúde acabo ficando muito envolvida com eles. Estamos lidando com as emoções de quem está precisando ser ajudado”, revela.
Susana ainda se recorda da história de um senhor, morador de Campinorte, que necessitava com urgência de uma cirurgia cardíaca. Ele estava entre a vida e a morte. O tempo não era um aliado. Ela largou tudo que estava fazendo e correu com os procedimentos. É um pouco de tudo: mil ligações, orientação com a papelada, acompanhar no hospital. O moço conseguiu a cirurgia pelo SUS, a operação foi um sucesso e hoje ele está com sua vida restabelecida, gozando de boa saúde. Esse tipo de história, com final feliz, é colecionado por Susana Moura como troféu, como vitória pessoal.
PLANOS PARA O FUTURO
Mãe de dois filhos, já rapazes, Renato Filho e Rafael, Susana se vê nos próximos anos de uma forma bem pacata: sendo avó e mimando os netos. Mas garante que não vai abrir mão de continuar sua luta para ajudar o próximo. “É um sentimento de ser útil à comunidade, o sentimento de pertencer e acreditar em algo maior. Estamos aqui para servir”, diz.
Acadêmica do sétimo período de Direito, tem o sonho de se formar, conseguir o registro na OAB e ajudar as pessoas também com seu trabalho de advogada. Enquanto o futuro não chega, ela não perde tempo. Continua a exercer com fervor a sua missão, que é entrar na vida das pessoas e devolver-lhes a esperança de ter uma vida sem tantas dores.