“Meu sonho é ver Mara Naves candidata a prefeita pelo MDB”, afirma Pedro Gonçalves
Em entrevista ampla e exclusiva ao Portal Goiás Total, o advogado Pedro Gonçalves abre o coração e fala sobre o passado, o presente e o futuro do MDB, partido que está umbilicalmente ligado. Ele não esconde sua decepção com os rumos políticos que o prefeito Renato de Castro tomou e afirma que Mara Naves é o melhor nome do partido para a eleição de 2020.
Confira na íntegra:
Qual deve ser a posição do MDB nas eleições municipais de 2020?
Olha, o MDB tem ótimos nomes em seus quadros. Dentre os nomes que tem se destacado no cenário atual, cito o presidente da Câmara, o combativo vereador Múcio Santana, um homem corajoso e leal, e também o vereador Dr. Marcos Vinícius, médico muito querido em nossa cidade, e que foi candidato a deputado federal pelo nosso partido, tendo sido o mais votado em Goianésia. Cito ainda o vereador Marcos Pernambuco, o qual, apesar de ainda não pertencer ao MDB, obteve nosso apoio em sua candidatura a deputado estadual, tendo sido muito bem votado na cidade, com quase o dobro de votos do candidato do prefeito, e assim inscreveu seu nome como uma das alternativas no processo. Cito ainda o Dr. Teófilo Lopes e Fabiano Lopes, nomes respeitados, de amplo conhecimento, membros de tradicionalíssima família da cidade, e imbuídos de profundo espírito público. Incluo ainda nesta lista o Dr. Rodolfo Guzmán, respeitado médico e bem sucedido empresário rural, que desde que chegou aqui tem se dedicado ao crescimento da nossa cidade. Cito também o Emerson da Autovip, que teve uma ampla votação na cidade, mesmo sem o apoio de nenhuma das grandes forças políticas tradicionais da cidade, e demonstrou de uma vez por todas sua crescente liderança política; o pai do Emerson sempre peemedebista, e vejo que o Emerson também tem chances de ser nosso candidato, caso haja uma aproximação nesse sentido. Mas, inegavelmente, Gilberto Naves e Mara Naves ainda são os nomes emedebistas que têm maior apelo eleitoral na cidade. Por toda sua história de correção, retidão, seriedade no trato com a coisa pública, idealismo, probidade, lealdade e humildade. Até hoje são reconhecidos pelas ruas. A população tem um carinho devocional ao casal. Acredito que é chegada a hora de Mara Naves ser nossa prefeita. Tenho certeza que Goianésia saberá reconhecer todo seu trabalho por nossa gente, e finalmente concederá a ela o tão sonhado mandato de prefeita. Ela que já tentou duas vezes, sem êxito. Caso Mara Naves seja a candidata, acredito que conseguirá aglutinar o partido em torno de seu nome, e contará com a apaixonada militância do MDB ao seu lado. E mais: acredito que o nome de Mara conseguiria aglutinar até mesmo forças políticas historicamente antagônicas, numa grande frente política suprapartidária pelo bem de Goianésia. Meu sonho é ver a Mara Naves candidata pelo MDB.
E o prefeito Renato de Castro? O MDB de Goianésia cogita não apoiá-lo?
O MDB de Goianésia é um partido que não tem donos. Todas as decisões do partido são tomadas de modo coletivo, sem imposições, ouvindo os companheiros, como deve acontecer numa democracia sadia e vibrante. O prefeito Renato de Castro é uma excelente pessoa, sem defeitos, e tem feito uma administração muito bem avaliada pela população. Entretanto, não tem se articulado politicamente no município. Não tem procurado o partido, e não afirmou em momento algum que é candidato à reeleição. Diz-se até que não seria candidato.
Foi eleito pelo MDB. E, quando digo MDB, não faço referência somente à sigla partidária, mas sim a todo o conjunto de forças políticas que sempre acompanhou a ala ligada ao MDB. Infelizmente, o prefeito tem tomado algumas decisões que o afastou de algumas dessas forças. Diz-se até mesmo que o prefeito estaria negociando sua filiação ao DEM, do governador Caiado, ou ao PTB, de Jovair Arantes. Desse modo, sendo iminente seu desligamento do partido, ou até mesmo incerta sua candidatura à reeleição, e tendo se afastado do diálogo com o partido, é chegada a hora de começarmos a discutir novos nomes para a disputa eleitoral do próximo ano.
Que decisões foram essas? Você faz referência ao não apoio do prefeito à sua candidatura a deputado estadual?
Absolutamente não. Faço referência a outras decisões. Em primeiro, a decisão de abandonar Daniel Vilela, candidato de seu partido a governo do Estado, e embarcar em outra candidatura, sem conversar com absolutamente ninguém em Goianésia. Frise-se que foi o Daniel Vilela quem veio a Goianésia fazer o lançamento da candidatura do Renato a prefeito, enquanto o Caiado negociava seu partido, o DEM, com outras forças políticas para lançar candidatura contra o Renato. Frise-se ainda que no pouco tempo de coincidência de mandatos de Daniel enquanto deputado federal e Renato enquanto prefeito, Daniel mandou para Goianésia quase R$ 2 milhões de reais em recursos de emendas, enquanto Caiado enviou muito pouco ou quase nada. E foi assim que o prefeito retribuiu esse apoio. Mas não só: também decidiu apoiar candidato a deputado federal fora de seu partido e fora de sua cidade, enquanto ele tinha aqui um candidato a deputado federal, o Dr. Marcos Vinicius, que é do MDB, é de Goianésia e faz parte de sua base de sustentação na Câmara. Ou seja, preenchia todos os requisitos para obter o apoio do prefeito, mas foi abandonado pelo caminho. Na questão da candidatura a deputado estadual vimos acontecer a mesma coisa: tivemos aqui um candidato a deputado estadual, o vereador Marcos Pernambuco, de um partido que apoiava o mesmo candidato a governador do prefeito, um vereador digno e correto, que ajudou o prefeito a ser eleito, e que no entanto também foi abandonado. Entretanto, poder-se-ia dizer que o prefeito não o apoiou porque Pernambuco esteve ao lado de Daniel Vilela. Ok. O que dizer então do candidato Emerson da Autovip? O Emerson é filho de Goianésia, apoiou irrestritamente o Caiado, e ainda assim também não contou com o apoio do prefeito.
Ou seja: o prefeito conseguiu numa só eleição deixar de lado todos os candidatos do seu partido e todos os candidatos de sua cidade. Havia cinco cargos em disputa. Ele não apoiou ninguém do MDB e nem ninguém de Goianésia, pra nenhum cargo, mesmo tendo inúmeras opções para isso.
Nossa cidade tem uma tradição de décadas de eleger dois deputados estaduais, cada um representando uma das alas políticas do município. Desta feita, inexplicavelmente, o prefeito abandonou essa tradição. Goianésia se sentiu traída.
Não tenho nada contra os candidatos do prefeito, principalmente os candidatos a deputado, Lineu Olímpio e Jovair Arantes. São pessoas que foram bons companheiros da administração e ajudaram o quanto puderam. Mas aqui tínhamos bons candidatos a deputado federal e estadual, e não havia nenhum motivo relevante para deixar de apoiá-los. E a resposta a esse equívoco veio nas urnas. Votações pífias dos candidatos do prefeito aqui na cidade. Quando aponto decisões equivocadas do prefeito, afirmo que o equívoco nem sempre se dá pelo conteúdo da decisão, mas às vezes pela forma como ela se dá. Por que eu digo isso? Quanto ao seu apoio ao candidato Caiado, o prefeito poderia argumentar que se daria porque este ostentava melhores condições de vitória, e que por ser prefeito e trazer nas costas a responsabilidade de uma gestão, seria necessário estar do lado vencedor. Ok. Quanto a isso, não há reparos a se fazer. E por si só já seria um motivo suficiente para compreendermos a decisão dele. O problema dessa decisão, bem como outras, é que elas se deram de um modo completamente monocrático, sem discussão com o partido e com os companheiros. Ele não conseguiu sequer comunicar sua decisão aos companheiros de modo prévio. Ficamos sabendo disso pelas páginas dos jornais da capital. Fomos pegos completamente de surpresa. O presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, em recente entrevista na qual reclamava do modo como os parlamentares têm sido tratados pelo governo Bolsonaro, chegou a dizer uma frase interessante. Ele disse: “Prefiro ganhar um ‘não’ bem explicado, do que um ‘sim’ atravessado”. O que ele quis dizer com isso? Que política é essencialmente a arte do bom diálogo, das explicações. Você pode seguir qualquer caminho, desde que tenha boas razões e explicações para isso. Quando você está numa situação de tomar uma decisão que vai afetar somente a sua vida, você pode tomar qualquer decisão que quiser sem dar satisfação a ninguém. Mas quando você é um líder político, você inspira sonhos e ideais, você conduz um conjunto de pessoas que te acompanham e acreditam em você. E aí, a você não é dado o poder de fazer o que bem entender, quando bem lhe aprouver. Não. Principalmente quando vai tomar decisões que lhe retiram do leito natural das coisas, você tem aquilo que os juristas chamam de “ônus argumentativo”, ou seja, tem o dever de explicar porque está fazendo isso. E, preferencialmente, também o dever de convencer. Ou, em último caso, ao menos avisar seus companheiros que está mudando de rota, para que não sejam pegos de surpresa. Nem isso ele fez, criando um imenso fosso de confiança, abrindo feridas de lealdade.
O prefeito chegou a dizer em uma entrevista dada numa rádio da cidade que o MDB de Goianésia errou ao não apoiar seus candidatos, notadamente o candidato a deputado estadual, Lineu Olímpio, que, embora tendo tido excelente votação em Jaraguá, teve uma votação pífia em Goianésia, com apenas 2 mil votos, tendo lhe faltado apenas 55 votos para ser eleito. Torci pela vitória do candidato Lineu, pois isso ajudaria muito Goianésia. Mas não posso deixar de registrar aqui meu inconformismo com a afirmação do prefeito. Uma pessoa nunca erra quando se mantém fiel aos seus ideais e à sua história, bem como aos seus companheiros, principalmente àqueles que o ajudaram em sua vitória eleitoral. No movimento estudantil eu aprendi uma lição que carrego para a vida toda. Fui presidente do Centro Acadêmico XI de Maio, órgão de representação estudantil do curso de Direito da UFG, e certa feita, neste cargo, quis tomar uma decisão que batia de frente com a posição de todo os demais membros da minha diretoria. Nessa ocasião, um companheiro mais experiente se levantou e disse: “Olha, em política é melhor você errar, mas estando junto com os seus companheiros, do que acertar sozinho”. Isso me fez refletir. E é uma aguda verdade do relacionamento político. Mesmo errando (ou perdendo), se você se mantém fiel aos seus companheiros e aos seus ideais, você sai ganhando, pois mantém a tropa unida em torno do seu nome. De outro lado, mesmo tomando uma decisão certa, mas se ficar sozinho nessa decisão, você estará isolado do conjunto político daqueles que não lhe seguiram. Às vezes, de modo irremediável.
Então o prefeito Renato de Castro nunca discutiu com o diretório local do MDB o apoio dele ao então candidato Caiado?
Nunca. Fomos informados pelos jornais.
O fato de você não ter acompanhado o prefeito Renato de Castro em suas opções para as eleições de 2018 não foi um ato de deslealdade, uma vez que vocês sempre estiveram juntos?
Olha, o que me une ao Renato, e posso dizer sem sombra de dúvidas que ainda hoje, mesmo após todo esse imbróglio vivido, é algo muito forte, muito mais do que uma simples amizade. O que nos une é um sentimento de irmandade. Eu sempre tive uma lealdade canina ao Renato. Entretanto, acompanhá-lo nas opções que ele fez, e do modo como ele fez, não seria um ato de lealdade, e sim de subserviência. E ser subserviente não combina com o legado que me foi dado.
Sabemos que atualmente há um processo de expulsão do prefeito Renato de Castro do MDB, e esse processo está parado no diretório do partido em Goianésia. Outros prefeitos do MDB que apoiaram o Caiado foram expulsos do partido. Como fica a situação do prefeito?
Esse processo está no diretório municipal do MDB. Como o diretório está com seu mandato vencido, não pode levar o processo adiante. O processo só vai caminhar quando tivermos a renovação do diretório. Até lá, isso fica parado, a não ser que o Diretório Estadual avoque para si a competência desse julgamento. É uma pena ver essa situação acontecendo. Se a gente fizer uma breve retrospectiva, vai ver que o MDB sempre deu espaço para os projetos políticos do prefeito. Seu pai, que era presidente do antigo PFL, partido tradicionalmente aliado ao PSDB em Goianésia, chegou a tentar ser candidato a vice-prefeito por aquele partido, mas foi preterido em convenção, mesmo sendo o presidente do partido, por uma ampla articulação de próceres que rejeitavam seu nome. Aliando-se ao PMDB, já em 2008 Renato foi candidato a vice-prefeito na chapa do Gilberto, ocupando um espaço que foi negado ao seu pai no PFL. Foram vencedores do pleito. Em 2012 Gilberto, entendendo ter cumprido sua missão, quis abrir espaço para que Renato fosse o candidato do MDB. Naquela ocasião, entretanto, atendendo a apelos de seus correligionários, Gilberto não abandona a disputa e sai na cabeça-de-chapa, tendo novamente Renato como seu vice. Infelizmente, não foram vitoriosos. Em 2014, o MDB de Goianésia se une em torno do nome de Renato para ser o nosso candidato a deputado estadual, mesmo estando em outro partido.
Um fato interessante de se lembrar aqui é que, quando Renato foi articular o apoio de forças de Jaraguá à sua candidatura, enfrentou fortes resistências do diretório do PMDB daquele município, que era presidido pelo ex-prefeito Paulo Antônio. E quem auxiliou bastante a convencer o PMDB de Jaraguá a apoiar Renato de Castro foi a pronta intervenção do Giovani Machado junto ao seu então presidente, Dr. Paulo Antônio, que vem a ser seu primo. E, ainda assim, mesmo tendo ocorrido esse fato, o apoio de Jaraguá a Renato de Castro é constantemente depositado unicamente na conta do Sr. Lineu Olímpio, talvez daí a razão de se ter apoiado-o enquanto candidato a deputado estadual. Mas, verdade seja dita, nada mais irreal do que essa percepção. Embora Lineu tenha sido muito importante para Renato em Jaraguá, ele não carregou sozinho essa bandeira. Vem 2016 e Renato de Castro é lançado candidato a prefeito pelo PMDB, pessoalmente por seu presidente, o então deputado federal Daniel Vilela, que veio a Goianésia especialmente para esse fim. Com a força de seu prestígio e da aguerrida militância do PMDB, consegue sair vitorioso, enquanto que na calada da noite o então senador Ronaldo Caiado entregou seu partido, o DEM, para outras forças políticas até então não-alinhadas ao projeto político do Renato, o que poderia tê-lo atrapalhado enormemente. E, em retribuição a tudo isso que o PMDB fez por ele, qual foi a atitude? A resposta todo mundo sabe. O prefeito e seu restrito núcleo decisório tomaram a posição que deixou a todo mundo perplexo. Entretanto, mesmo com tudo isso, não acredito que haja clima no diretório municipal para expulsão do prefeito, mesmo ele tendo tido a lamentável postura que teve com relação ao partido. Isso se dá porque o prefeito é uma pessoa do bem, muito querido por todos, e está fazendo uma boa gestão à frente da Prefeitura de Goianésia. O próprio presidente do diretório municipal não tem dado mostras de se empenhar nessa expulsão. Muito pelo contrário. Tem dito que, no que depender dele, esse processo não prospera. Todavia, mesmo que ele não seja expulso no município, acredito que no diretório estadual ele não conseguirá encontrar a mesma boa vontade e a mesma sorte daqui, razão pela qual acredito que esta expulsão será questão de tempo, infelizmente. Porque indo pra lá a gente perde o controle do processo. Mas, volto a dizer, tenho uma estima devocional pelo prefeito, que é uma pessoa do bem. Acho apenas que ele está sendo mal orientado. Vejo com muita tristeza tudo isso que está acontecendo.
Como você votará nesse processo?
Quem tem a competência de votar no processo é a Comissão de Ética do partido. Eu não faço parte desta Comissão.
Pode se dizer que uma recomposição do MDB com o prefeito Renato então é impossível?
Não diria que seja impossível, porém me parece um caminho cada vez mais distante. Volto a dizer, o prefeito Renato é uma pessoa do bem, mas aparentemente está sendo mal orientado pelos seus tutores e por um pequeno grupo que o cerca.
Para que houvesse uma recomposição, deveria haver um mínimo de humildade por parte do prefeito e de seus tutores, para reconhecer seus erros e equívocos, bem como reconhecer o valor das pessoas que cerraram fileiras ao seu lado. Mas a gente não consegue enxergar isso. Muito pelo contrário. Temos percebido uma ausência de humildade por parte deles, ao afirmar que não cometeram nenhum erro. Dizer que não cometeram nenhum erro, mesmo com o recado eloqüente das urnas, é cometer outro erro. Os candidatos apoiados por eles tiveram resultados pífios aqui. Até mesmo o candidato a governador, embora tenha se sagrado vencedor, obteve aqui um resultado bem abaixo da sua média estadual, ainda mais se comparado com cidades próximas aqui, como Ceres e Jaraguá, onde ele chegou a ter quase 80% dos votos. Aqui em Goianésia ele obteve somente 50%. Já o candidato a deputado estadual do prefeito e seus tutores obteve somente 2 mil votos, enquanto o candidato a deputado federal não obteve mais do que 1.500 votos. Então, foram erros em cima de erros. Decisões erradas, tomadas de modo equivocado, sem discutir nada com ninguém, sem envolver os companheiros. E o pior de tudo: sem prestigiar Goianésia. Entretanto, mesmo com todas as evidências militando contra, tivemos que ouvir o prefeito em entrevistas a rádios na cidade dizendo que quem errou foi o MDB, ao não seguir os candidatos apoiados por ele. Oras… isso chega a ser risível… pra não dizer outra coisa. Pensei que com os resultados pífios das urnas eles iriam tomar um banho de realidade. Mas eu estava enganado. Então, como disse, não temos percebido por parte do prefeito e seus tutores essa humildade. Aliás, alguns deles até hoje acham que ganharam as eleições municipais sozinhos… então, acho que esse não é o caminho para quem deseja uma recomposição, e sim o caminho para o isolamento. E para a derrota. Mas o tempo é o Senhor do destino.
Você tem repetido que o prefeito está sendo mal orientado por seus tutores e por um pequeno grupo, que você chama de “núcleo decisório”. A quem você faz referência?
Acredito que seja desnecessário falar em nomes. Mas é interessante notar que esse pequeno grupo decisório do prefeito se divide nitidamente em duas linhas bem claras de pensamento e atuação política: uma linha do orgulho e do ódio, e outra linha mais progressista, mais ampla, de idéias arejadas e que enxerga o futuro. Um registro importante é que nesse grupo o nosso partido simplesmente não tem nenhuma representação. A linha mais progressista é também mais atenta à realidade e mais aberta às composições. Já a linha do orgulho e do ódio acredita que o prefeito Renato ganhou as eleições sozinho, e em razão dessa ideia acredita que o prefeito não precisa dialogar com ninguém, nem com a sociedade civil organizada, nem com os vereadores, nem com as novas forças políticas que surgem, enfim, é uma linha da atrofia política e do isolamento. Frequentemente, o prefeito, que não gosta de conflitar com ninguém e tem um perfil apaziguador e diplomático, se vê arbitrando o conflito de direcionamento existente entre essas duas linhas. E, infelizmente, quase sempre a linha do orgulho e do ódio, por ser dotado de mais força, tem prevalecido. O prefeito está encapsulado por essa bolha. Enquanto o prefeito não se libertar do encapsulamento promovido pela linha do orgulho e do ódio, e não se ver livre para dialogar mais amplamente com a sociedade, estará cada vez mais isolado, e se verá com cada vez mais dificuldades em desenvolver sua promissora carreira política.
O prefeito Renato de Castro ostenta altos índices de aprovação popular. Segundo o Paço, acima de 80%. Você acredita que ainda assim o prefeito pode ser derrotado nas urnas?
Quem disse isso não fui eu, mas as próprias urnas de 2018.
Eu até acho que seja verdadeiro o índice de aprovação popular de 80%. Mas isso por si só não significa necessariamente apoio eleitoral. Rememoremos a história: o ex-prefeito Otavinho ostentava índices de mais de 90% de aprovação popular, não sem razão, pois realmente fez uma gestão bastante positiva e que provoca boas lembranças aos goianesienses. Entretanto, mesmo tendo escolhido um candidato à sua imagem e semelhança, seu grupo amargou uma derrota para o ex-prefeito Gilberto Naves em 2008. Em 2018, o prefeito Renato de Castro, mesmo tendo aprovação de mais de 80%, não conseguiu converter isso em votos aos candidatos apoiados por ele. Caiado teve aqui cerca de 50% dos votos, quase 20% a menos do que a média estadual dele, de 60%, e muito menos do que cidades vizinhas como Ceres e Jaraguá, onde Caiado teve mais de 70%. O candidato a deputado federal teve cerca de 1.500 votos e o candidato a estadual teve pouco mais de 2 mil votos, num universo de 50 mil eleitores aptos. O que 2018 deixa de lição? A eleição de 2018 nos ensina (ou deveria ensinar), que somente popularidade, sem que se tenha uma costura política forte e sem que se faça uma política de grupo, está fadada ao insucesso. Há alguns dias atrás tivemos conhecimento de uma pesquisa de intenção de votos divulgada pela TV Record na qual o prefeito Renato, mesmo tendo essa altíssima aprovação, aparece com somente 39% das intenções de voto para sua reeleição, enquanto 40% dos ouvidos dizem que não votarão em sua reeleição, e outros 21% se dizem indecisos. Veja aí a dificuldade. Goianésia é uma cidade muito dividida, polarizada, e com estamentos políticos muito consolidados. Principalmente as forças oposicionistas, por sua ampla estrutura financeira e social. Então, respondendo mais diretamente à sua pergunta: sim, não tenho dúvida de que, mesmo com toda essa aprovação, ele poderá vir a ser derrotado, se não fizer as costuras políticas corretas. A história recente está aí para nos dar as lições necessárias. Basta que saiba fazer a leitura correta. E digo mais: se eventualmente o prefeito sair do MDB, e o partido lançar outro candidato, aí nem chance ele tem de ser eleito. Infelizmente, essa é uma constatação óbvia.
Qual será o seu caminho nas eleições de 2020?
Tive uma grata oportunidade de servir à minha cidade, enquanto secretário de Projetos da Prefeitura de Goianésia, atendendo ao honroso convite do prefeito Renato de Castro. À frente desta pasta, onde fiquei somente 10 meses, conseguimos avançar em muitos projetos. Conseguimos destravar os pagamentos da obra de reforma do Estádio, e as obras foram entregues a tempo do nosso time disputar o Campeonato Goiano em sua arena própria. Em Brasília, com o prestígio do prefeito Renato, conseguimos viabilizar mais de R$ 10 milhões em recursos federais para obras na cidade. Destaco, dentre estas, a reforma do Módulo Esportivo Pedro Wolner, a construção da extensão da cobertura do Feirão do Nova Aurora, a construção da Praia do Cerrado, recursos para a realização do Carnaval de 2017, e os recursos para a construção do Novo Hospital Municipal, que eu reputo a grande jóia desta gestão, dentre outras. E, por esta oportunidade, sou muito grato ao prefeito, a quem devoto especial estima e consideração.
Tendo em vista os resultados deste trabalho, e querendo trabalhar ainda mais por nossa cidade, ensaiei alçar vôos maiores. Entretanto, infelizmente não consegui angariar a confiança do grupo que dirige a Prefeitura para esse projeto.
Voltei para Brasília, onde retomei minha carreira, e também montei um escritório de advocacia em Goianésia. Além disso, cuido de algumas atividades na propriedade rural da família. Durante toda minha vida me dediquei profundamente às lides políticas, e acabei deixando minha carreira um pouco de lado. Agora, aos poucos quero retomar minha carreira e me dedicar aos meus projetos profissionais.
Há boatos de que você voltaria a compor os quadros da Prefeitura. Existe essa possibilidade?
Não existe esse movimento. Como eu disse, sou muito grato ao prefeito Renato pela oportunidade. Não escondo que exerci minha função com muito empenho e alegria. Porém, não sei exatamente por qual motivo, não consegui angariar a confiança de peças-chave dentro do atual governo, o que nos levou a uma situação bastante desconfortável. Atualmente não me sinto em condições de compor novamente o governo. Mas desejo toda a sorte e sucesso ao prefeito Renato. E, como eu disse, preciso retomar minha carreira e me dedicar aos meus projetos profissionais. Acredito que eu já cumpri minha missão.
Muito se critica o prefeito Renato quanto a suas prioridades, que seriam somente festas, e que não teria conseguido entregar obras significativas. Você concorda com isso?
Acredito que as forças oposicionistas que apostarem no desgaste do prefeito Renato por causa desse tipo de crítica vão se frustrar. Em primeiro, porque realmente o povo gosta de festas e é inegável que o lazer é também um direito do povo, garantido constitucionalmente. Só critica as festas quem não gosta de ver a alegria do povo. Em segundo, porque os grandes eventos acontecem não somente para dar lazer à população e acesso grátis a apresentações artísticas a um povo que não teria acesso a esses shows se não fosse por meio da Prefeitura, mas eles servem também para dinamizar a economia da cidade e fomentar o turismo, sendo, portanto, uma fonte de renda para a população e a injeção de dinheiro novo para o comércio local. Em terceiro, porque o prefeito Renato terá sim grandes obras para mostrar ao povo ao final de sua gestão. A extensão da cobertura do Feirão do Nova Aurora, que muitos criticavam e que foi uma proposta que chegou até mesmo a ser ridicularizada pela oposição, já é realidade e a população já está usufruindo deste benefício. A Praia do Cerrado já tem os recursos reservados e a licitação deve sair em breve. Como é uma obra sem grande complexidade em sua execução, deve ser concluída em pouco tempo. O Novo Hospital Municipal já tem o terreno pronto e preparado, e os recursos reservados. Tenho notícias que tiveram algum atraso na conclusão do projeto de engenharia, mas, uma vez prontos os projetos e a licitação, deve ser uma obra também bastante rápida, pois poderá ser feita por meio do RDC (Regime Diferenciado de Contratação). Conseguiu implantar o Restaurante Cidadão. A reforma do Módulo Esportivo Pedro Wolner já está em andamento. O problema do cemitério está sendo resolvido. A reforma do Estádio foi entregue a tempo e a contento. Enfim… são muitas obras e iniciativas que poderão ser concluídas, e o prefeito vai consagrar seu nome se realmente conseguir concluir tudo isso, o que não se mostra impossível. Torço pra que ele consiga, pois Goianésia merece. E eu acredito que ele conseguirá. O prefeito Renato é uma pessoa do bem. Quero muito bem ao Renato, e espero que ele tenha sucesso em todos esses projetos.
Embora tivesse começado com um espírito crítico, você tem feito muitos elogios ao prefeito. Não seria isso um sinal de uma vontade inata de voltar a fazer parte deste grupo?
Procuro ser justo. A atual gestão tem muitos acertos e méritos, e eles devem ser reconhecidos, independente do campo político em que eu estiver. Por outro lado, esta gestão também tem muitos erros e furos. O dique não é impenetrável e já dá sinais de fadiga. Entretanto, parece-me que a oposição não tem sabido explorar os erros e contradições do governo. Faz críticas pueris, como quando critica a extensão da cobertura do Feirão do Nova Aurora e o Carnaval, iniciativas amplamente aplaudidas pela população. Eu sei onde estão os erros e furos dessa administração, e a oposição está passando longe de saber explorá-los corretamente.
E quais são esses erros e furos que você menciona?
Eles serão explorados no momento oportuno, a depender do campo político em que estivermos. Evidentemente que, por respeito à posição já ocupada, jamais usarei informações sigilosas que a mim foram confiadas em razão do cargo ocupado. Mas há erros evidentes, que ocorrem a olhos vistos, de forma pública e notória, mas que, não sei por qual razão, não tem sido corretamente abordado pela oposição. Ainda chegará o momento em que poderemos ter a oportunidade de apontá-los.
Há rumores de que pode haver uma união entre o MDB e o PSDB em Goianésia nas eleições de 2020. Qual sua posição sobre isso?
O PSDB em Goianésia tem em seus quadros nomes de muito respeito. O ex-prefeito Jalles Fontoura é uma simpaticíssima figura, com quem temos excelente relacionamento. O deputado Dr. Hélio, ex-presidente da Assembleia Legislativa, orgulha nossa cidade com sua retidão e espírito público. O ex-prefeito Otavinho, agora presidente da Adial, realizou aqui uma gestão que marcou a história de Goianésia, e tem nosso respeito e admiração enquanto empresário e administrador. E poderia citar aqui diversos outros quadros do PSDB e partidos aliados, pessoas as quais, embora adversários políticos, temos o mais absoluto respeito enquanto profissionais e pessoas públicas, como o Sr. João Vilela, o Dr. Robson, o Dr. Marco Antônio, o Dr. César, dentre outros. Entretanto, MDB e o PSDB sempre foram forças antagônicas aqui no município. Vejo dificuldades nessa articulação, por razões históricas. São barreiras difíceis de serem removidas.
Mas existem esses rumores. Ou não?
Às vezes a gente ouve isso por aí. Mas me parece mais um devaneio do que realmente algo concreto. Nossos grupos são como água e óleo. Mantêm-se distantes religiosamente.
A nossa prioridade será eleger o Daniel Vilela governador do estado de Goiás. E por que isso? Porque o Daniel tem um estrito vínculo com nossa cidade, com nossas lideranças políticas, e certamente, se fosse eleito governador, faria muito bem à cidade. Numa gestão do Daniel, Goianésia se transformaria num canteiro de obras, e teríamos amplo espaço em seu governo. Goianésia deu uma ampla votação para o Daniel, proporcionalmente maior até do que sua terra natal, Jataí, mas infelizmente, ele não logrou êxito nas eleições de 2018. Nessas eleições, Caiado foi eleito governador. Mas o Caiado não gosta de Goianésia. Nunca gostou. Aponte-me uma única obra ou iniciativa do Caiado aqui em Goianésia? Não tem. E olha que ele foi deputado federal por vários mandatos, e por último era senador da República, e não se tem notícia de absolutamente nada relevante que ele tenha feito por Goianésia, mesmo sendo senador nos dois primeiros anos do governo do prefeito Renato. Por outro lado, o Daniel, nesses dois últimos anos, trouxe quase R$ 2 milhões de reais para Goianésia. Mandou R$ 800 mil em equipamentos para a saúde; R$ 500 mil para a reforma do Módulo Esportivo Pedro Wolner; R$ 200 mil para o Carnaval de 2017; e outras iniciativas mais.
E o Caiado? O que fez por Goianésia? Para se ter uma idéia do tamanho do prestígio que Goianésia tem junto ao Daniel e ao Maguito: o Maguito era candidato a suplente na chapa do hoje senador Vanderlan Cardoso; mas ficou desconfortável com a situação, pois seu filho era candidato a governador, e então quis dar lugar a outro companheiro. O que ele fez? Convidou o ex-prefeito Gilberto Naves, nosso eterno líder maior, para ocupar seu lugar como suplente do senador Vanderlan. Todos os outros governos sempre colocaram quadros de Goianésia em posições de protagonismo no Estado. No governo Marconi/José Eliton, o Jalles Fontoura, por exemplo, ocupou importantes funções. Foi secretário da Fazenda e por último foi presidente da Saneago. Antes disso, no governo Maguito Vilela, o ex-prefeito Gilberto Naves foi secretário de Segurança Pública e secretário-chefe da Casa Civil, o órgão central do governo. Ou seja: Goianésia sempre foi prestigiada nos últimos governos.
E nesse governo atual? Todos nós sabemos que o prefeito Renato foi peça importantíssima da eleição do Caiado, dentro do movimento de prefeitos emedebistas que abandonaram o barco de Daniel e subiram no palanque de Caiado. Com isso, o prefeito Renato está até mesmo correndo o risco de ser expulso do partido, conforme aconteceu com os demais prefeitos. E o que Goianésia ganhou com isso? O que o prefeito Renato ganhou com isso? Nada. Zero. Nenhuma indicação em cargo relevante. Nem de primeiro nem segundo escalão. Temos ouvido por aí que tem havido dificuldades para realizar nomeações até mesmo em cargos locais da estrutura administrativa do Vapt-Vupt. Será que Goianésia não tem nenhum nome apto e com capacidade para compor o governo? Fabiano Lopes tem feito um fantástico trabalho à frente da secretaria de Infraestrutura, poderia muito bem presidir a Goinfra. Mas Caiado preferiu nomear seus primos. A ex-secretária Gislene também fez um trabalho magnífico na secretaria de Educação, com a manutenção da cidade como primeiro lugar no IDEB. Não poderia ter assumido a Secretaria Estadual de Educação? Eu acho que sim. Mas o Caiado preferiu trazer uma professora de Rondônia, que nada conhece da nossa realidade. E eu poderia citar aqui diversos outros nomes que, assim como estes, têm feito um excelente trabalho em suas pastas e são dotados da mais alta honorabilidade, respeitabilidade e capacidade técnica, e estiveram ao lado de Caiado em sua campanha, como o secretário de Finanças, Jairo Pacheco, a secretária de Promoção Social, Salete Carrilho e o secretário de Saúde, Hisham Hamida. Nenhum deles então serve para compor o governo, somente a “legião estrangeira” serve? Esse é o espírito de Caiado. Não sabe valorizar nem dar espaço aos seus companheiros, mesmo quando estes tem bons nomes para indicar para o governo. Atualmente, o ex-chefe de gabinete do prefeito Renato, o Sr. Paulo Vítor, está ocupando a chefia de gabinete pessoal da primeira-dama Gracinha Caiado. Há quem coloque esse “cargo” na conta de indicação do prefeito Renato, como sendo da “cota” de Goianésia. Dois enganos há aí. Em primeiro que a indicação do Paulo Vítor para esse cargo não se deve a influência de absolutamente ninguém, mas tão somente ao seu próprio tirocínio, sua capacidade de articulação e sua conhecida habilidade política. Em segundo que o senhor Paulo Vítor, embora muito querido em Goianésia, não é da cidade, mas sim da nossa vizinha querida cidade de Jaraguá, nossa terra-mãe. Ele fez parte da legião estrangeira que tomou de assalto os principais cargos da Prefeitura de Goianésia. E em terceiro que este cargo, embora tenha bastante proximidade com o núcleo do poder, não tem qualquer competência decisória ou de execução de políticas públicas, o que, embora bastante honroso para quem o ocupe, torna-o com pouca relevância para a cidade. O jornal O Popular noticiou há alguns dias atrás que já se contam 14 parentes do governador em cargos relevantes do governo. Oras… interessante notar que para Goianésia não tem espaço pra ninguém, mas para os parentes do governador, aí sobra espaço! Enfim, de que adiantou o prefeito Renato se indispor com seu partido para apoiar o Caiado? Nada. Absolutamente nada. Não tem cargos, não tem influência. Não tem vez e não tem voz. Se o governador conseguir ao menos colocar pra funcionar o Credeq e o USE (Unidade de Saúde Especializada), localizado ali na entrada do Jardim Esperança, e que é de competência do governo estadual, além de concluir a nova adutora de captação de água para cidade, à partir do Rio do Peixe, e que o governo anterior já entregou quase pronto, obra na qual o ex-presidente da Saneago, Jalles Fontoura empregou grande esforço, já está de bom tamanho. Mas infelizmente as notícias que nos chegam não vão nesse rumo. Parece-me que há até mesmo rumores de que estaria sendo preparado o fechamento da unidade da UEG atualmente existente na cidade. O que não nos surpreenderia. Enfim, se isso acontecer, ao invés de avanços em Goianésia, esse será o primeiro governo que trará retrocessos. Espero que isso não aconteça. Seria muito triste pra nossa cidade, ter um retrocesso justamente no campo da educação, que deveria ser tratado como prioridade por qualquer governo. Mas, como eu disse, não me surpreenderia se isso realmente acontecer.
Além de tudo isso, Caiado tem o DNA político do atraso. E não tem nenhuma capacidade política de se identificar com os novos ares de modernidade que os goianos anseiam por respirar. Deste modo, nossa posição para as eleições do próximo ano passa por uma convergência de idéias no que tange à candidatura do Daniel Vilela para governador no próximo pleito. Disso não abrimos mão. Com Daniel, Goianésia vai recuperar o protagonismo político que outrora teve nos governos anteriores. E é para isso que sempre vamos trabalhar.