EM GOIANÉSIA
8 de agosto de 2017

Carlos Veículos conta tudo sobre o rompimento com o prefeito Renato de Castro

Pela primeira vez, de forma oficial, após ter sido eleito, empossado, rompido com o prefeito e ter seu mandato cassado em primeira instância, o vice-prefeito de Goianésia, Carlos Veículos (DEM) fala com exclusividade a um veículo de imprensa.

De forma contundente e sem meias palavras, ele solta o verbo contra o secretário-chefe da Casa Civil, Manoel de Castro Arantes (Fião), seu grande desafeto na política atualmente. Ele conta também os motivos que o levaram a romper com o prefeito Renato de Castro (PMDB) e os bastidores da contenda que acabou se transformando em processo de cassação da chapa por fraude eleitoral.

Acompanhe a entrevista na íntegra:

Porque desistiu de ser candidato e apoiou o PMDB nas eleições municipais?

Trabalhei incansavelmente durante 2 anos na formação de um grupo político com uma nova forma de pensar em nossa cidade, onde o benefício chegasse a todos e não a um pequeno grupo, como sempre vi acontecer. Como Goianésia é uma cidade onde existe um grupo dominante e um grupo que mesmo com pouca estrutura detinha uma grande parte do eleitorado, busquei dissidentes desses 2 grupos políticos e formamos uma boa equipe, com bons candidatos, tanto na chapa majoritária como para vereadores. Só que as pesquisas não nos davam chance de vitória. Com três candidatos, elegeria o Jalles (Fontoura, ex-prefeito) com facilidade. Mesmo assim lutei até o final, só que o Jalles me disse um dia que ganharia a eleição com 2 ou 3 candidatos e aquilo ficou na minha mente. Quando fui procurado pelo Fião em minha residência, na madrugada do dia 4 de agosto, para uma aliança, disse a ele que teria interesse sim, pois segundo as pesquisas de cada 4 votos que eu tinha, 3 eu tirava do Renato e apenas 1 do Jalles. Concordei desde que fizéssemos um projeto de poder, onde seria respeitado o espaço político de cada um. Bem o contrário do que ele disse numa entrevista para o repórter Elienai, falando que eu tinha lhe procurado em seu escritório e que se fosse pra falar sobre espaço político no governo não era pra eu subir um degrau da escada, conversa que nunca existiu, muito menos as palavras que ele falou que tinha dito. Tínhamos um acordo de espaço político, tanto é que abdiquei de minha candidatura que já estava consolidada, inclusive com convenção realizada, para que andássemos juntos na tentativa de aglutinar forças para tentarmos ganhar as eleições. Fiz uma proposta, que se o PMDB me apoiasse, eu bancaria a campanha e daria 30% de espaço político, além da vice ao PMDB ou do contrário eu toparia sair de vice do Renato e ele me daria os 30% de espaço político, em relação ao percentual de espaço no Governo numa futura vitória, houve acordo, acordo esse que após a vitória nas urnas o Renato me disse que não iria cumprir, só que como mesmo disse o Fião eu teria que arcar com uma parte  dos gastos,  pendência só resolvida momentos antes da convenção do PMDB, quando me dispus a entrar com R$ 250 mil divididos em 5 notas promissórias de R$ 50 mil para datas futuras.

O que de fato motivou o senhor a romper com o prefeito Renato de Castro e não apoiar o governo?

Já durante a campanha vi muita dificuldade em lidar com o Fião, pois só aproximava de mim para pedir mais dinheiro. Já o restante da cúpula do PMDB, que não vou citar nome  para não cometer injustiça com ninguém, me recebeu de braços abertos e me deu total liberdade de ação durante a campanha. Na segunda reunião com a coordenação de campanha, isso com mais ou menos 10 dias de campanha, foi solicitado R$ 100 mil e ele mais uma vez queria que eu desse mais dinheiro. Eu disse que minha parte estava representada pelas notas promissórias, as quais seriam honradas em seu vencimento, como foram e que minha função a partir daquele dia seria pedir votos. Ele disse que não teria como andarmos juntos, saí dali e não participei de mais nenhuma reunião com a coordenação de campanha. Logo após as eleições veio aquela desastrosa entrevista ao repórter Elienai, onde mesmo sem ter declarado à Justiça Eleitoral a minha  doação, disse que eu tinha  participado financeiramente. Aliás, uma das poucas verdades em tudo que ele disse aquele dia. Infelizmente esperava que o Renato tivesse coragem de confrontar o pai e que ele comandaria a prefeitura, pois esta é a única hierarquia que eu respeito, não o que estamos vendo hoje, um prefeito nas redes sociais e outro comandando a prefeitura. Esse governo intitulado monarquia não me representa.

Há alguma chance de reconciliação?

Já disse e repito várias vezes, nada tenho contra o Renato. O dia em que ele realmente comandar a prefeitura  e me entregar o que é meu por direito, estarei pronto para honrar os votos conferidos a nós nas urnas, sempre respeitando a seguinte hierarquia, (Renato prefeito, Carlos vice), pois o combinado não é caro e outra coisa, sempre cumpri meus compromissos, porque  por ser política a pessoa não sente a necessidade de cumprir o que trata e ainda sai falando mentiras e tentando se esconder em cima de argumentos que não existem. Prefiro o capitalismo à política, pois no capitalismo, onde aprendi a sobreviver, você  para dar certo tem que honrar seus compromissos, falar a verdade e cumprir  o que é tratado, já na política o que temos visto é pessoas sem nenhum escrúpulo, mentiroso e corrupto, que usa a tribuna e fala que tem caráter e honra, tenho tido até vergonha de usar essa frase, inclusive quando as pessoas me perguntam se sou político, digo que não, continuo sendo homem. O chefe da Casa Civil, que dizia em reuniões internas que nem iria à prefeitura e a primeira coisa que fez depois da eleição foi se auto colocar como secretário de Governo, não me representa e muito menos deveria estar na prefeitura recebendo salário, apesar de ser legal, é totalmente imoral e vergonhoso.

O que você pensa sobre o pai do prefeito, Manoel de Castro Arantes?

Pessoa de personalidade difícil e que não confia nem nele mesmo, como o próprio me disse um dia. Politicamente, difícil andar com esse cidadão novamente, posso ser enganado várias vezes, por várias pessoas, por uma determinada pessoa só sou enganado uma vez e a cota dele já foi. Ele deixa tudo pra última hora, tem coisas que a gente reverte, tem coisas que não, ele prefere pagar pra ver. No mínimo, ele deveria ter me respeitado, pois sem eu e meu grupo político seu filho jamais chegaria ao comando do executivo municipal nas eleições de 2016, o que não ocorreu.

Sofreu algum tipo de ameaça, hostilização por conta do rompimento?

Não e não preocupo com isso, pois tenho a consciência tranquila que fiz o meu melhor na campanha e só não estou no Governo porque não quiseram minha participação e todos sabem da verdade. Mas, infelizmente por precisar do emprego uma grande parte se sujeita a viver debaixo de cabresto, se omite e se cala, ou fica como alguns que temos visto por ai, falando bobagens em rede social.

Arrepende-se de algum ato feito antes, durante ou depois da campanha?

Fiz o que minha consciência mandou fazer, por isso não existe arrependimento. Sempre busquei orientação de Deus em tudo que eu faço, posso até errar, mas tento acertar o máximo possível.

Muitos te acusam de ter delatado o prefeito. Isso procede?

Todos sabem que isso é mentira. Esquecem-se que eu também estou no mesmo barco em relação à cassação. O meu mandato foi conseguido a duras penas, trabalhei muito pra chegar lá e se o Renato realmente for cassado eu também serei. Qual a  vantagem disso pra mim? Nenhuma. Quem deu notoriedade ao fato foi o Fião quando deu entrevista dizendo que eu tinha feito doação pra campanha e que mesmo, sem declarar minha doação à Justiça Eleitoral, trocou as promissórias na rua e em instituição financeira da cidade, tornando o fato público, chegando assim ao conhecimento do MP. E aí está uma ação de cassação, que ainda estou tendo que arcar com as custas de um bom advogado para ver se não sou cassado ou que meus direitos políticos  sejam preservados. Sou o mais prejudicado até o momento.

Acredita que o desfecho na segunda instância será favorável à chapa?

Prefiro esperar. Apesar de termos recorrido da decisão separados, acredito que temos chance de reverter a decisão de Goianésia, principalmente no que diz respeito a inelegibilidade.

Qual sua opinião sobre o prefeito e o político Renato?

A bandeira que ele carregava era a minha bandeira, por isso fizemos a união. Fico feliz de ver a redução do IPTU, a retirada da ciclovia e o pagamento em dia dos funcionários e fornecedores, pois como empresário que sou, isso não é mais que uma obrigação de quem recebe ou presta um determinado serviço. Foram lutas empreendidas por mim durante a gestão do Jalles e colocadas em nosso plano de governo. O Renato é carismático, bom menino, pena que submisso ao pai, poderia só ser obediente.

Comenta-se que o senador Ronaldo Caiado teria lhe tirado do comando do DEM local. Isso é verdade?

Não, na realidade nunca quis ser presidente de partido, essa condição foi imposta pelo senador para me passar o partido em Goianésia na época. O senador tem um projeto futuro e sonha com o apoio do PMDB. Coisa que eu só acredito vendo, pois não acredito que o PMDB após 20 anos perdendo o Governo do estado e com chance de ganhar novamente vá apoiar um candidato que não seja do partido. Como tem alguns na prefeitura que não tem o que fazer ficavam ligando e enchendo a cabeça do Senador em relação ao meu posicionamento, então numa conversa com o próprio senador decidimos que o Leozão seria um bom nome pra comandar o partido, pois além de ser do DEM há vários anos é parente do Renato e assim foi feito.

Qual sua análise sobre a política de Goianésia? Arrepende-se de ter entrado? Tem planos de continuar?

Polarizada entre 2 grupos, sendo um dominante e outro que diz que luta pela minoria. Só que na prática isso não acontece. Essa minoria pela qual eles lutam são eles mesmos. Entrei na política por ideologia e para mostrar aos menos favorecidos que independentemente de classe social que pertencem, podem sonhar alto e realizar os sonhos almejados. O futuro depende do julgamento das instâncias superiores. Se perder o mandato e ficar inelegível, difícil continuar na vida pública, que só me deu gasto, desgaste, remédio pra pressão e inimizade. Por isso como bom matemático que sou, a conta da política pra quem realmente não busca interesse próprio não fecha.

Em que o ex-prefeito Gilberto Naves te influencia na vida política? Acredita que ele pode estar no páreo novamente?

Dr. Gilberto e o Otavinho são minhas referências em Goianésia de homens públicos que respeito e admiro. Dr. Gilberto viu em mim uma pessoa idealista, que sabe administrar e luta por seus objetivos e tenta ser justo o máximo possível. Isso na opinião dele aliado à minha história de vida me credenciaria a entrar na disputa por uma vaga de prefeitável. Em relação a ele estar na disputa ou não só depende dele, pois assim como o Otavinho, pelas administrações que fizeram, vão ser sempre lembrados para um novo pleito, pela seriedade com que administraram nossa cidade.

Se houver novas eleições, que lado vai apoiar? Qual será seu posicionamento?

Preciso esperar a decisão final do processo que está na segunda instância. Caso seja mantida a decisão de Goianésia e eu fique inelegível preciso repensar minha vida pública. Agora caso seja acatado o pedido do meu advogado e do Ministério Público que pede minha absolvição (os autos e minha defesa provaram que não fiz e nem participei da coordenação  de campanha, da prestação de contas, muito menos de Caixa 2,  por isso não é justo  perder meu mandato, conquistado com muita luta). Estando elegível ou inelegível não tenho como fugir da minha  responsabilidade com Goianésia e preciso conduzir da melhor forma possível. Caso não seja candidato, irei apoiar quem tiver a melhor proposta, que beneficie toda a população. Só não estou participando deste mandato, porque não aceito e não concordo que o chefe da Casa Civil comande nossa cidade, pois não disputou eleição e disse em várias reuniões que não iria pisar na prefeitura, inclusive falava que tinha ajudado a eleger Dr. Hélio, Otavinho e Dr. Gilberto e nunca tinha ido à prefeitura e que não seria agora que iria. Todos tinham medo  que isso acontecesse. Infelizmente ele mentiu e enganou todos e hoje comanda a prefeitura, mesmo sem ter tido nenhum voto. Tem pessoas que nos surpreendem, sua esposa por exemplo, ao contrário do chefe  da Casa Civil – que o poder subiu à cabeça e consegue aumentar sua rejeição – tem tido jogo de cintura  e habilidade pra lidar com o poder. Uma coisa é certa: com o Fião comandando um processo político eu não estarei do seu lado, pois ele pegou a pessoa que o ajudou a chegar à prefeitura, que foi seu maior aliado e decisivo pela vitória, e o transformou não em adversário político e sim num inimigo político. Resumindo: com esse cidadão politicamente difícil andar novamente, só se for ele pedindo voto para mim.

Considera-se injustiçado por companheiros na política?

Não. Fiz o que quis fazer, aprendi  e amadureci muito nesses quase  3 anos militando na vida pública, vi que o problema do nosso país não são só os políticos, vendo os escândalos que aparecem todo dia dos políticos fico imaginando que grande parte que critica se estivesse lá  estaria fazendo igual ou pior. Isso já virou cultura do brasileiro, tentar levar vantagem em tudo, sem respeitar o próximo. Precisamos repensar o país onde vivemos, que fica pior a cada dia. Os bons costumes e o que é certo vêm se deturpando e perdendo os valores, a família perdendo sua identidade a cada dia, redes sociais que em sua maioria só prega a maldade e a mentira, pessoas sem escrúpulos que não importam com o próximo. Moramos num país cheio de riquezas naturais, mas cheio de corrupção em todas as esferas, seja ela pública ou privada. Quem alimenta tudo isso é a lentidão da justiça em julgar os processos. Quando o assunto é defender o cidadão de bem, demora mais de uma década passando de instância para instância, sem nada resolver. Se uma pessoa te deve e é mal intencionada e você vai cobrar dela, ela fala para colocar na justiça. Faz isso porque sabe que não vai acontecer nada, pela morosidade com que os processos são julgados. Justiça só funciona mesmo para direitos humanos e para defender bandidos e quando é menor  de idade, geralmente se resolve com menos de 24 horas. O país vai mudar quando tivermos pelo menos mil pessoas que pensam e agem como o juiz Sérgio Moro. Até agora em relação à política, vim, vi, venci e não gostei.